Trajetória acadêmica e profissional
Trajetória acadêmica
Minha formação acadêmica caracterizou-se pelo encadeamento de atividades direcionadas, desde o início, para uma carreira em pesquisa e ensino. A possibilidade de realizar parte dos estudos no exterior, durante a graduação e o doutorado, permitiu-me travar contato com uma diversidade de perspectivas teóricas e históricas sobre a arquitetura. Assim, orientei meus estudos e pesquisas para temáticas relacionadas às trocas culturais e às interfaces entre tradição e modernidade.
Tendo a oportunidade de realizar integralmente minha graduação no exterior, escolhi a Universidade de Maryland (Estados Unidos) devido à combinação, no seu currículo, de uma abertura para estudos de arquitetura tradicional — histórica e contemporânea — tanto quanto do modernismo, além de abordagens interdisciplinares. Cursei, durante a graduação, disciplinas do currículo de mestrado em Patrimônio cultural e em Arquitetura, que me levaram a tratar de problemas de conceituação, gestão e intervenção em sítios históricos por meio de metodologias arqueológicas e projetuais variadas. Paralelamente, completei um curso de especialização em Estudos do Extremo-Oriente, na mesma universidade, visando com isso a adquirir uma pluralidade de perspectivas sobre historiografia e história da arte. Ainda durante o curso de graduação, realizei um estágio de pesquisa arqueológica nas escavações de Pompeia, pelo qual tive minha iniciação na gestão de equipes de pesquisa e na interpretação de processos de transformação do ambiente construído.
Retornando ao Brasil, concluí minha habilitação profissional em Arquitetura e Urbanismo e, imediatamente, iniciei pesquisa de mestrado sobre o tema das raízes clássicas e academicistas da monumentalidade modernista no período entre-guerras. Essa abordagem ensejou uma duradoura colaboração com a minha orientadora, Dr.ª Sylvia Ficher, com a qual publiquei artigos durante e após o curso de mestrado versando sobre problemas de monumentalidade moderna, ensino de arquitetura e trajetórias de arquitetos do início do século XX.
Iniciei o doutorado explorando as raízes dos debates clássicos sobre autoridade arquitetônica na França do século XVII — tema que seria afunilado, por ocasião de um estágio “sanduíche” na Universidade de Paris IV, financiado pela CAPES, para uma análise dos debates historiográficos em torno da Colunata do Louvre. Essa nova abordagem fez-me avançar até o século XIX e início do XX, tratando das disputas estéticas e profissionais que caracterizaram o ecletismo no âmbito da redefinição do ofício do arquiteto frente à modernização tecnológica e social na França. Ao mesmo tempo, devido ao início de minha atuação docente, expandi o escopo de meu interesse nos problemas da tradição e da modernidade para o universo da arquitetura histórica na região de Brasília, coordenando atividades curriculares e de extensão no centro histórico de Planaltina.
Ambas essas preocupações — com as interfaces entre o clássico e o moderno, e com as tradições vernáculas brasileiras — vêm norteando minha atuação profissional desde então.
Trajetória profissional
A minha atuação profissional, em sua maior parte como professor do quadro permanente da Universidade de Brasília, tem se caracterizado pela exploração de trocas culturais tanto do ponto de vista dos objetos de pesquisa quanto dos modos de atuação junto aos colaboradores. Dando continuidade à pesquisa desenvolvida durante o período de estágio doutoral “sanduíche” na França, desenvolvi pesquisas abordando as interações entre a arquitetura clássica do século XVII ao XIX e a crítica mais recente. Tal abordagem repercutiu tanto em âmbitos interdisciplinares, como em livro coletivo publicado em parceria com historiadoras, quanto em fóruns internacionais, exemplificado pela minha participação regular nos congressos da International Association for the Study of Traditional Environments (IASTE) — com sede na Universidade da Califórnia — desde 2012 e em atividades científicas e de capacitação profissional promovidas pelo International Network for Traditional Building, Architecture, and Urbanism (INTBAU), desde 2009.
Os períodos de afastamento da Universidade de Brasília foram, por sua vez, de fundamental importância para o enriquecimento das pesquisas desenvolvidas e das interações entre pesquisa, ensino e gestão. O período em que lecionei no curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais na Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre 2014 e 2015, permitiu-me não apenas acessar materiais de pesquisa que somente podiam ser encontrados nas bibliotecas e arquivos do Rio de Janeiro, mas também formar redes de colaboração científica e extensionista interdisciplinares e interinstitucionais, envolvendo a Escola de Belas Artes e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, assim como o Ministério das Relações Exteriores. Foi, também, ocasião de refletir sobre os processo de ensino de história da arte, observando as abordagens peculiares à Conservação e Restauro de bens móveis e integrados no tocante a recortes cronológicos e preocupações teóricas e técnicas. Na sequência, minha atuação como Coordenador de Museus e Patrimônio Cultural junto ao Governo do Distrito Federal, em 2016, fomentou um duradouro intercâmbio com a prefeitura e a universidade de Le Havre, que vem tendo continuidade no âmbito da pesquisa sobre a história e preservação da construção moderna após o meu retorno à UnB.
Os contatos da FAU–UnB com a Europa, com minha participação ativa e inclusive no papel de executor de acordos e planos de trabalho conjuntos, têm sido ampliados e enriquecidos desde 2016, buscando-se estabelecer relações de parceria que superem a convencional dicotomia centro–periferia. Após meu retorno à UnB, de fato, tenho presidido a comissão de internacionalização da FAU e participado das reuniões de gestão da internacionalização junto à assessoria internacional da reitoria. Desde 2016, concluímos ou estamos próximos de concluir e renovar acordos de cooperação com cinco instituições de ensino superior europeias, com forte ênfase em redes de colaboração científica e de intercâmbio de alunos de pós-graduação na área de história da construção. Em 2018, criamos o grupo de pesquisa Documentação, Modelagem e Conservação do Patrimônio, que coordeno e que tem tomado a dianteira na condução das parcerias com a Université Le Havre, mas também com a Università degli Studi di Roma « Tor Vergata », com o Laboratório de Processos Eletroquímicos da Universidade de São Paulo e o Núcleo de Tecnologia da Preservação e do Restauro, na Universidade Federal da Bahia.
Ainda no ano de 2018, realizei, às minhas próprias custas e durante minhas férias, dois processos de estudo e documentação na Europa, necessários à continuidade de meus projetos de pesquisa. O primeiro consistiu em levantamento bibliográfico junto à Biblioteca nacional da França, à biblioteca da Universidade de Paris VII e ao Centro de arquivos sobre a arquitetura do século XX, na Cité de l’Architecture et du Patrimoine, também em Paris, sobre temas atinentes à arquitetura e à construção no Brasil. O material coletado por essa ocasião vem sendo organizado com vistas à publicação de um livro monográfico sobre arquitetura brasileira do século XIX e da Primeira República. Minha estadia na França durante esse período também permitiu-me participar de colóquio na Escola de Arquitetura da Universidade de Estrasburgo sobre trocas culturais na historiografia da arquitetura, que resultará na publicação de um livro coletivo em 2019. O segundo período de estudos consistiu em levantamentos e análises da arquitetura tradicional do Alentejo, no sul de Portugal, com o apoio técnico do INTBAU, já tendo essa atividade resultado na publicação de um capítulo de livro.
O estudo e o levantamento de fontes bibliográficas e construídas no exterior é elemento central no desenvolvimento de minhas pesquisas, mas também na construção de redes de colaboração que vêm resultando não apenas em produção científica, mas também na expansão de intercâmbio de discentes assim como de experiências pedagógicas.
Projetos financiados
Durante minha atuação profissional, coordenei cinco projetos financiados por órgãos brasileiros, bem como um projeto com financiamento internacional, tendo atuado em outro como professor orientador de alunos bolsistas. Em 2011, fui integrante da comissão organizadora do Workshop Brasília 50+50, realizado em parceria entre a Universidade de Brasília e o Politécnico de Milão, com financiamento de ambas as instituições. A oficina resultou na publicação de um livro pela Editora da UnB, também financiado em colaboração com o Politécnico de Milão a partir de verbas estatais de fomento à pesquisa da Itália.
No período de 2011 a 2014, quando coordenei pesquisas de documentação, interpretação e reconstituição do centro histórico de Planaltina — núcleo urbano fundado no século XIX em Goiás — obtive bolsas de iniciação científica como forma de apoio ao projeto. Além disso, em 2012, coordenei, na qualidade de arquiteto consultor da empresa licitante, o Inventário do Setor Tradicional de Planaltina contratado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Esse projeto permitiu a montagem de uma equipe científica e técnica, formada por historiadores, arquitetos e estagiários, e seu produto final recebeu menção honrosa em 2015 no Prêmio da Nova Arquitetura de Brasília, conferido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil. O resultado positivo de minha atividade de coordenação no Inventário de Planaltina resultou, subsequentemente, na minha contratação em 2013 como consultor — mediante análise de curriculum vitae — pela Secretaria de Estado de Turismo do Distrito Federal para desenvolver os textos interpretativos, de caráter histórico-cultural e arquitetônico, para a divulgação do Conjunto Urbanístico de Brasília, patrimônio mundial pela UNESCO, que são atualmente exibidos nos totens de sinalização turística em frente aos monumentos da cidade.
Em 2014, fui integrante da equipe de quatro pessoas que da coordenação geral do XIII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, realizado com financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), de sua homóloga em Goiás, assim como da CAPES e do CNPq. De 2015 a 2018, coordenei o projeto de pesquisa Urbanização, Arte e Crítica na República Velha, com auxílio financeiro da FAPDF e da CAPES. Paralelamente, como parte das atividades preparatórias à criação do grupo de pesquisa que atualmente coordeno, também coordenei, na qualidade de arquiteto consultor, o Inventário do Catetinho — primeiro palácio presidencial de Brasília —, em serviço de natureza técnico-científica contratado pelo Iphan. Todos os projetos citados, inclusive aqueles que envolveram consultoria a empresas na execução de serviços técnicos contratados pelo poder público, se rebateram em produção bibliográfica de caráter científico.
Regularidade
A minha atuação profissional e científica tem se pautado pelo fio condutor das relações entre tradição e modernidade, reunindo os diversos projetos de pesquisa que conduzi num todo coerente e num fluxo contínuo de produção. Desde 2012, venho publicando artigos em periódicos e capítulos de livros, tanto nacionais quanto internacionais, à razão de, no mínimo, duas produções por ano (excetuado o ano de 2015, por motivos de ordem pessoal). A isso agregam-se as publicações em anais de eventos e as organizações de livros. O crescimento da minha produção bibliográfica em 2018, quando publiquei quatro artigos e capítulos, foi planejado em preparação para o tempo que pretendo dedicar, em 2019 e 2020, à finalização de um livro monográfico sobre a história da arquitetura brasileira no século XIX e Primeira República, resultando em provável queda no número de publicações de artigos e capítulos durante esse período — queda relativizada, porém, graças a um capítulo que já se encontra no prelo e outro em fase de revisão.
Minha produção bibliográfica tem buscado um equilíbrio entre textos redigidos em colaboração com outros pesquisadores e alunos de pós-graduação, organização de livros coletivos, e trabalhos individuais. Assim, procuro fomentar a formação de redes de pesquisa, inclusive com colaboradores de outros estados brasileiros e do exterior, bem como ressaltar minha contribuição individual para o conhecimento científico.
Também tenho atuado, em ciclos regulares, na organização e coordenação de eventos nacionais e internacionais, em 2011 — Workshop internacional Brasília 50+50 —, 2014 — XIII SHCU —, 2017 — seminário sobre história da construção organizado em parceria entre a UnB e a Université catholique de Louvain — e, atualmente, participando da coordenação geral do IV Enanparq a ser realizado em 2020.