[…] a planta da construção era provavelmente desenhada pelo próprio arquiteto — guiado […] pelas regras e princípios da geometria antiga.

Podemos imaginar a planta, desenhada num pedaço de tamanho conveniente de argila, papiro, lousa, numa bandeja de areia ou outro suporte semelhante — completamente livre de qualquer cota ou medida padronizada. Dependendo puramente das proporções.

Tons Brunés, The Secrets of Ancient Geometry, and Its Use, trad. Charles M. Napier, vol. 1, p. 317 (Copenhagen: Rhodos, 1967).

A metodologia dinâmica para construir no tempo era inerentemente flexível, e essa elasticidade incluía o planejamento por meio de proporções, que era parte integrante desse processo fluido e de longo prazo.

Marvin Trachtenberg, “To Build Proportions in Time, or Tie Knots in Space? A Reassessment of the Renaissance Turn in Architectural Proportions”, Architectural Histories 2, n.º 1 (20 de junho de 2014): Art. 13, p. 4 <https://doi.org/10.5334/ah.bp>.

Contexto

Localização de Ammaia na província da Lusitânia, império Romano, em 125 d.C.
Figura 1: Localização de Ammaia na província da Lusitânia, império Romano, em 125 d.C.

Ammaia foi uma cidade planejada no século I a.C. na província da Lusitânia, no império Romano (fig. 1). Ela foi fundada para reunir e controlar a população rural da região quando da conquista romana, bem como para facilitar o acesso a pedreiras e minas nas montanhas vizinhas. Ammaia atingiu o auge do seu desenvolvimento no século IV d.C. (fig. 2). O local estava ligado às cidades mais importantes da região por meio de estradas, mas nenhuma dessas estradas era uma rota de circulação importante. Por isso, a cidade acabou sendo abandonada após o século V d.C., quando a lógica administrativa e econômica do império Romano já tinha se desagregado.

Reconstituição tridimensional da cidade de Ammaia no século IV d.C. Projeto coordenado por Cristina Corsi e Frank Vermeulen, 2012. Disponível em Fundação Ammaia
Figura 2: Reconstituição tridimensional da cidade de Ammaia no século IV d.C. Projeto coordenado por Cristina Corsi e Frank Vermeulen, 2012. Disponível em Fundação Ammaia

Ammaia se situa atualmente em Portugal, na região do Alentejo, a poucos quilômetros da fronteira com a Espanha. O sítio é uma bacia sedimentar de altitude moderada (500 a 600 metros) no sopé de uma cadeia de montanhas. Ele tem um declive moderado de oeste para leste e está delimitado ao norte, leste e sul por cursos d’água. A oeste, uma colina domina a cidade.

No centro do tecido urbano (fig. 3) ficava, como de praxe nas cidades do império Romano, o fórum: um complexo tripartido formado por templo, mercado e basílica (um edifício para audiências públicas e encontros em geral).

Reconstituição do tecido urbano da cidade de Ammaia na sua máxima extensão, século IV d.C.
Figura 3: Reconstituição do tecido urbano da cidade de Ammaia na sua máxima extensão, século IV d.C.

A unidade de medida básica das construções romanas era o pé, igual a 29,5 centímetros. Segundo Vitrúvio, para se erguer um edifício ou complexo monumental como esse, era preciso começar estabelecendo a sua largura em pés. No caso do fórum de Ammaia, essa largura era de 225 pés. Praticamente todas as demais medidas eram extrapoladas dessa largura, usando relações proporcionais.

Ementa

Seguindo as instruções fornecidas em sala de aula, reconstitua a planta do fórum da cidade romana de Ammaia partindo da largura de 225 pés e extrapolando as demais medidas por meio do uso de razões geométricas e proporcionais.

Produto

Numa prancha A3, na orientação vertical, reproduza a sequência da construção geométrica da planta do fórum na cidade romana de Ammaia (fig. 4). Adote a escala de 1 milímetro = 1 pé romano. A sua entrega deve mostrar o traçado regulador geométrico num peso de linha leve, e a planta arquitetônica resultante com traço mais pesado.

  • Inclua margem, título e escala gráfica;
  • Desenhe usando os instrumentos, materiais e dicas de trabalho.
Síntese das operações geométricas na planta do fórum de Ammaia
Figura 4: Síntese das operações geométricas na planta do fórum de Ammaia

Cronograma

A atividade será realizada em sala de aula e entregue ao final do turno.

Avaliação

A avaliação contemplará de forma holística o seu desempenho e evolução nos quesitos abaixo, ao longo de todo o processo de elaboração do trabalho e de orientação com a equipe docente, enfatizando o resultado desse processo no produto final.

Conteúdo

  • Você trabalhou nesta atividade durante todo o horário da aula (exceto durante as aulas expositivas) e pediu orientação à equipe docente sempre que necessário; (oriente pelo menos uma vez por aula, para garantir a presença!)
  • Você compreendeu as características construtivas e as proporções da cabana primitiva proposta nesta ementa;
  • Você seguiu o procedimento e os critérios indicados na seção Produto desta ementa, bem como as orientações da equipe docente;
  • Os seus desenhos apresentam projeções ortográficas geometricamente corretas e são condizentes com a realidade construtiva do objeto proposto nesta ementa;
  • Você fez uso eficaz, correto e elegante do traçado regulador e de um sistema de proporções.

Apresentação

  • Você respeitou a escala e as indicações de materiais e representação pedidas nesta ementa;
  • O seu desenho usa uma expressão gráfica correta e legível;
  • Você incluiu todas as informações e elementos necessários na prancha, tais como: margem, título e o seu nome, escala gráfica;
  • A prancha está composta de modo equilibrado e aproveitando bem o espaço disponível.

Referências

Ammaia

Bibliografia

As referências indicadas abaixo devem ser usadas como ponto de partida para uma pesquisa mais aprofundada. Elas podem ser encontradas no acervo físico ou digital das bibliotecas da UnB, nos links indicados na referência, ou ainda na área de arquivos do Moodle.

Bonell, Carmen. La divina proporción: las formas geométricas. Barcelona: Edicions UPC, 1999.
Corsi, Cristina, Michael Klein, Paul S. Johnson, Devi Taelman, e Frank Vermeulen. Ammaia : uma cidade Romana na Lusitania. Évora: Universidade de Évora, 2013.
Corsi, Cristina, e Frank Vermeulen, orgs. Ammaia I: The Survey. A Romano-Lusitanian Townscape Revealed. Archaeological Reports Ghent University 8–9. Ghent: Academia Press, 2012.
Doczi, György. O poder dos limites: harmonias e proporções na natureza, arte e arquitetura. Traduzido por Maria Helena de Oliveira Tricca e Júlia Bárány Bartolomei. São Paulo: Mercuryo, 2008.
Langhein, Joachim. “Proportion and Traditional Architecture”. INTBAU Ideas and Opinions 1, no 10 (2013). https://www.intbau.org/wp-content/uploads/2014/10/ProportionandTraditionalArchitecture.pdf.
Robertson, D. S. Arquitetura grega e romana. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
Rocha, Ricardo de Souza. “Instrumentos matemáticos na história da arquitetura”. Métis história e cultura 19, no 37 (30 de outubro de 2020): 432–49. https://doi.org/10.18226/22362762.v19.n.37.17.
Scholfield, P. H. Teoría de la proporción en arquitectura. Traduzido por Luis Recasens. Barcelona: Labor, 1971.
Stierlin, Henri. O Império Romano: dos etruscos ao declínio do império romano. Köln: Taschen, 2002.
Vitrúvio. Tratado de arquitetura. Traduzido por M. Justino Maciel. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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