Contexto
Espaço e volume
A construção é o elemento de base da arquitetura. A articulação entre volumes é a linguagem da composição arquitetônica. Numa composição arquitetônica tradicional, cada volume é claramente delimitado, tem uma forma geométrica clara, e é articulado de modo autônomo. Ao mesmo tempo, todos os volumes de uma composição se relacionam por meio de traçados reguladores e transições (passagens) para formar um todo coerente, dotado de uma hierarquia espacial facilmente apreendida pelo usuário (fig. 1).


A planta baixa é, naturalmente, o ponto de partida de toda composição arquitetônica, pois ela nos permite lançar as áreas horizontais dos ambientes. No entanto, a nossa percepção do espaço recai primeiramente sobre as superfícies verticais que delimitam esses ambientes. Isso nos faz perceber o volume antes que a superfície (fig. 2).
Projetar em corte

Por isso, assim que tivermos um partido inicial lançado em planta, é interessante desenvolvermos o corte. Isso é especialmente relevante na construção tradicional, que não é feita de lajes contínuas e sim de volumes singulares delimitados por paredes portantes, os quais podem facilmente ter diferentes pés-direitos (fig. 4), para não falar em desníveis de piso.


Mais ainda, o corte nos permite visualizar relações e continuidades entre espaços interiores e exteriores (fig. 3). O corte como instrumento de desenvolvimento do projeto é também o meio mais intuitivo para dimensionar abóbadas e cúpulas (fig. 5).
Da construção à espacialidade
Nos trabalhos anteriores, progredimos em complexidade da simples reprodução de um traçado regulador atestado no registro arqueológico para a concepção de uma morada vernacular focada na resolução de problemas construtivos elementares. Sem deixar de lado as lições aprendidas nesses trabalhos, agora vamos acrescentar ao nosso estudo a espacialidade interior e exterior, bem como a articulação entre construção, espaço e plástica num registro mais erudito.

Um dos instrumentos mais eficazes para se projetar relações entre volumes espaciais é a quina (fig. 6). Ela é o ponto de partida para um grande número de composições centralizadas, permitindo diferentes ênfases nos espaços axiais ou diagonais, bem como deformações longitudinais ou transversais da sua geometria. A quina pode facilmente ser combinada com traçados reguladores proporcionais em quadratura, triangulatura, ou em construções geométricas baseadas no círculo e nas diagonais dos quadrados, além, é claro, das proporções harmônicas derivadas de razões de números inteiros.
Ementa
O espaço da arquitetura tradicional é sempre uma figura geométrica delimitada por superfícies verticais (paredes interiores ou fachadas exteriores) e horizontais (pisos e, nos interiores, tetos). Dois espaços são articulados entre si por meio de limiares bem definidos, dotados de alguma espessura, mesmo onde houver uma franca continuidade entre ambientes. Algumas transições são elas próprias espaços importantes, como varandas, corredores ou vestíbulos. Sabendo isto, proponha no mesmo setor de Ammaia usado no Trabalho I:
Uma composição formada por no mínimo dois espaços abobadados diferentes e um espaço de transição entre eles ou entre o exterior e o interior. Um dos espaços abobadados deve ter um teto em cúpula, abóbada de aresta, ou abóbada nervurada.
Programa
A composição adotará uma tipologia cívica ou religiosa do Mediterrâneo ocidental no período tardoantigo ou medieval. Os trabalhos da turma terão uma distribuição equilibrada nos quarteirões de Ammaia, nos períodos e estilos pertencentes ao nosso recorte cronológico e geográfico, e nos tipos edilícios compatíveis com esse recorte e com o status da cidade de Ammaia como povoação em declínio. Para efeito deste trabalho, vamos considerar como se Ammaia tivesse permanecido habitada durante todo o período medieval (na realidade, ela foi totalmente abandonada antes do século IX).
A atribuição de lotes, estilos e tipos edilícios será negociada entre estudantes quarteirão a quarteirão, mediante anuência do professor. A distribuição das intervenções deve considerar o equilíbrio de escala e função do tecido urbano, a formação de espaços abertos e fechados de boa qualidade volumétrica (inclusive entre edificações e na via pública), a diversidade étnico–religiosa do Mediterrâneo ocidental e as preexistências edificadas. É permitido ocupar lotes ociosos bem como intervir sobre edificações existentes do Trabalho I, e considerar a possibilidade de deformação do traçado viário por sedimentação.
Todos os estilos arquitetônicos e sistemas construtivos da península Ibérica tardoantiga e medieval (séculos IV a XIV) são admissíveis. Os tipos edilícios sugeridos compreendem, entre outros:
- Banhos públicos;
- Igreja ou capela;
- Claustro;
- Sinagoga com ou sem banhos;
- Mesquita com ou sem madraçal;
- Mausoléu;
- Mansão ou palacete;
- Torre com ou sem aljube;
- Mercado e almotaçaria (apenas um permitido);
- Paço municipal (apenas um permitido);
- Uma, e apenas uma, das intervenções no setor será associada a um chafariz ou bica d’água pública.
Conteúdo
- A composição, incluindo a arquitetura da edificação, deve seguir uma tradição erudita histórica, compatível com o uso de abóbadas ou cúpulas;
- O entorno imediato da composição também deve ser composto tendo em vista a criação de espaços exteriores bem definidos;
- A aplicação de um traçado regulador proporcional e a resolução dos sistemas construtivos continuam a ser exigidas neste trabalho, assim como nos anteriores;
- A construção será em alvenaria, de acordo com uma tradição construtiva do Mediterrâneo ocidental;
- As preexistências construídas devem ser incorporadas, propondo-se alterações ou demolições conforme necessário e levando em conta a prática tradicional de se reaproveitar estruturas ou elementos existentes;
- O caráter dos volumes individuais, o tipo da composição como um todo, o sistema construtivo e os detalhes decorativos devem ser condizentes entre si e com uma expressão sofisticada dentro da tradição construtiva escolhida.
Apresentação
Uma maquete física em escala 1:50 mostrando todos os elementos construtivos da composição, inclusive descascando os revestimentos das paredes, teto e terraço para mostrar o miolo da construção. A maquete será inserida na base fornecida para este fim, eventualmente substituindo as maquetes do Trabalho I.
- A maquete deve mostrar a amarração da alvenaria, a camada de revestimento sobre esta, e todos os elementos que constituem a estrutura das abóbadas ou cúpulas, bem como das coberturas;
- A maquete pode ter partes removíveis para melhor visualização dos seus elementos construtivos;
- Maquetes adjacentes devem coordenar entre si a representação da parede meeira.
Avaliação
A avaliação contemplará de forma holística o seu desempenho e evolução nos quesitos abaixo, ao longo de todo o processo de elaboração do trabalho e de orientação com a equipe docente, enfatizando o resultado desse processo no produto final, bem como a sua evolução com respeito aos trabalhos anteriores.
Neste trabalho, você terá demonstrado o conhecimento e as habilidades adquiridas cumulativamente desde os trabalhos anteriores. Mesmo que a ênfase neste trabalho esteja na espacialidade, não despreze a resolução de problemas construtivos! Afinal, o espaço na arquitetura tradicional só passa a existir quando é delimitado por estrutura.
Pesquisa
- Você estudou as notas de aula e as leituras obrigatórias desta Unidade para compreender os princípios gerais da construção tradicional;
- Você pesquisou exemplos reais de construções eruditas do Mediterrâneo ocidental, tanto na bibliografia da disciplina (básica e complementar) quanto em outras referências técnicas e acadêmicas com credibilidade;
- Você escolheu sistemas de abóbadas e cúpulas, bem como eventuais sistemas arquitravados complementares, coerentes entre si e com o propósito desta Unidade e atividade, que é estudar a espacialidade das construções eruditas tradicionais.
Conteúdo
- Você trabalhou nesta atividade durante todo o horário da aula (exceto durante as aulas expositivas) e pediu orientação à equipe docente sempre que necessário; (oriente pelo menos uma vez por aula, para garantir a presença!)
- As abóbadas e cúpulas do seu edifício são coerentes com a técnica construtiva e transferem devidamente suas cargas para pilares ou paredes bem dimensionados, e daí para as fundações — ou seja, o seu edifício ficaria de pé na vida real;
- Os ambientes interiores e exteriores da sua composição têm dimensões e proporções adequadas e elegantes, e as transições entre eles são resolvidas com apuro;
- A composição apresenta detalhes construtivos (e eventualmente decorativos) coerentes e suficientes para demonstrar a técnica construtiva adotada bem como para articular superfícies visualmente interessantes;
- A sua maquete é geometricamente correta e condizente com a realidade construtiva da arquitetura tradicional;
- Você fez uso eficaz, correto e elegante do traçado regulador e de um sistema de proporções;
- Você atendeu aos requisitos explícitos desta ementa bem como ao espírito geral desta disciplina.
Apresentação
- Você respeitou a escala e as indicações de representação pedidas nesta ementa;
- Você realizou a maquete com capricho e elegância, escolhendo materiais e técnicas apropriados para transmitir as informações necessárias com clareza;
- A maquete é sólida e fácil de manipular e se encaixa no espaço previsto para tanto na base.
Referências
Comece analisando com atenção as edificações ilustradas nos tópicos “Arcos e abóbadas”, “Clima” e “Propósito”, bem como nas respectivas leituras obrigatórias e sugeridas, em especial os capítulos 6 e 7 do livro-texto História da arquitetura mundial.
As referências indicadas abaixo devem ser usadas como ponto de partida para uma pesquisa mais aprofundada.