TAU 0005 é a segunda disciplina na cadeia de Teoria e História do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Brasília, e a primeira a se dedicar inteiramente ao estudo do passado. Ela é tanto uma cadeira de formação profissional quanto uma disciplina de conhecimentos gerais. A partir do estudo das construções e das cidades tradicionais desde a Antiguidade até o século XV, vamos desenvolver familiaridade com a análise crítica em história e com a teoria e prática da arquitetura tradicional.

O programa de TAU 0005 foi escrito mais de 30 anos atrás e mudou muito pouco desde então. Hoje em dia, esse conteúdo parece — e é — formalista e eurocêntrico. Mas, na sua origem, a cadeia de Teoria e História estabelecida em 1989 representou um grande avanço na organização do nosso curso. Desde a abertura do curso de Arquitetura e Urbanismo da UnB, em 1962, o conteúdo das disciplinas, mesmo aquelas obrigatórias, ficava quase totalmente a critério do professor. Esse modelo gerava um currículo imprevisível para os alunos, às vezes repetitivo e sempre cheio de lacunas. Além disso, era um programa elitista, já que ele favorecia quem trazia de casa uma cultura humanística e histórica sólida.

A reforma curricular de 1989 se inspirou no currículo dos principais cursos de Arquitetura do Brasil e das Américas. Ela propunha uma formação relativamente uniforme para todos os alunos, visando a nivelar as oportunidades e a atender às diretrizes curriculares nacionais. Ao longo desses 30 anos de vigência, a cadeia de Teoria e História foi sendo ampliada para atender a mudanças nas diretrizes curriculares e para refletir novas preocupações críticas. Nesse processo, a sequência original de disciplinas obrigatórias — TAU 0005 a TAU 0009 — não mudou praticamente nada, pelo menos na grade curricular oficial. Como sempre, essa aparência de que nada mudou, segundo os registros formais, esconde grandes mudanças na prática. Há uma inquietação constante com os rumos das disciplinas e muitos ajustes no conteúdo e no enfoque dado pelos professores.

TAU 0005 tem um conteúdo formal distante da nossa vivência cotidiana, e vocês podem até se perguntar se essa disciplina tem alguma relevância para a realidade brasileira. Uma resposta simples e, de certo modo, correta é dizer que todo estudo de história e toda cultura geral em arte e arquitetura são importantes em si. Outra resposta possível é lembrar que a arquitetura dominante no Brasil de hoje — da qual fazemos todos parte, para o bem ou para o mal — é herdeira de certas formas, teorias e sobretudo de um conceito do que é ser “arquiteto”. Todos esses paradigmas se formaram em certas regiões da Europa, da África e da Ásia, e vêm sendo debatidos desde o Renascimento. Estudar a arquitetura da Antiguidade e da Idade Média é estudar, portanto, as origens da nossa própria arquitetura.

Essas duas respostas são válidas, é claro, tanto para quem, dentre vocês, vai acabar escolhendo uma carreira de pesquisa e ensino em Teoria e História da Arquitetura, quanto para quem busca simplesmente alguma cultura geral. Ainda assim, elas deixam de lado um problema central no nosso curso: como o estudo da história da arquitetura se integra por inteiro num currículo voltado, sobretudo, para a formação de profissionais no ofício da arquitetura?

Como já vimos, a crítica histórica também pode trazer respostas para problemas contemporâneos. As tradições arquitetônicas globais são modos resilientes de construir consumindo pouca energia e respeitando a diversidade de culturas regionais. Dentro dessa diversidade, a arquitetura clássica que se formou na bacia do Mediterrâneo (sul da Europa, norte da África e oeste da Ásia) é o sistema mais coerente, versátil e duradouro já inventado para dar forma ao ambiente construído. Só a arquitetura chinesa (que também incluímos no programa deste semestre) se aproxima da coerência sistemática e da longevidade do classicismo mediterrâneo. Mesmo linguagens que se afastam dos princípios formais clássicos, como o gótico, ou aquelas que rejeitam explicitamente o sistema clássico, como o modernismo, ainda assim usam, de certo modo, a teoria da arquitetura clássica como um ponto de partida. Dominando as regras e as possibilidades de composição do classicismo, vocês vão deter uma caixa de ferramentas que permite analisar qualquer outra linguagem arquitetônica tradicional ou contemporânea.

Por fim, o que está por trás das regras explícitas do classicismo é tão ou mais importante do que essas regras: isto é, o conjunto de princípios mais ou menos universais que regem todas as arquiteturas tradicionais. Esses princípios vêm sendo estudados em ramos diversos da pesquisa em Arquitetura e Urbanismo pelo menos desde a década de 1960. Eles têm sido, também, cada vez mais aplicados na solução de problemas contemporâneos, desde a habitação de interesse social até a sustentabilidade ambiental.

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